Caruaru e Nova Jerusalém
Ah, Caruaru! Capital do forró, dos bonecos de barro de Mestre Vitalino, da feira de Caruaru, da banda de pífanos, dos cordéis, do “maior” São João do Brasil, de Austregésilo de Athayde.
Caruaru fica a 130 km de Recife no Agreste Pernambucano, é polo médico-hospitalar e turístico da região e é a maior cidade do interior de Pernambuco.
Possui relevo movimentado e faz parte da província geoambiental da Borborema; é cortado por rios perenes; o clima é o semiárido, com verões quentes e secos
e invernos amenos e relativamente chuvosos. A vegetação típica é a caatinga.
Na cidade, conhecemos dois locais emblemáticos: o Museu do Barro e a Feira de Caruaru.
Museu do Barro
O Museu do Barro Espaço Zé Caboclo possui espaços destinados tanto à música quanto ao artesanato.
Na música, há salas com objetos que pertenceram ao rei do baião, Luiz Gonzaga, sempre com suas músicas tocando ao fundo. Luiz Gonzaga nasceu em Exu, no Pernambuco em 1912; é uma bela homenagem ao artista que tanto representa o nordeste brasileiro. Ainda na música, noutra sala há
uma homenagem a fabulosa Elba Ramalho, com roupas utilizadas em shows, fotos, adereços. Elba nasceu na Paraíba e é uma grande representante
da música popular brasileira e dos ritmos nordestinos.
No segundo andar do museu, ficam as salas destinadas às obras em barro, muito típicas dessa região, com muitas obras de Mestre Vitalino, Abelardo Rodrigues e outros artesão do Alto Moura.
As esculturas em barro sempre retratam figuras do dia a dia, como barbeiros, padres, cangaceiros, animais
e outros. É um museu que vale a pena conhecer.
Feira de Caruaru
Com mais de 200 anos de existência, a Feira de Caruaru é uma das maiores feiras livres do Brasil e hoje é Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro. O local começou como ponto de parada de vaqueiros que conduziam o gado entre o interior
e o litoral do Estado.
São centenas de barracas onde é possível encontrar de tudo e mais um pouco: artesanato, roupas, alimentos, há uma área destinada apenas para os produtos “chineses”,
aquelas coisinhas que encontramos em todos os lugares, coisinhas que só se encontra numa feira no nordeste. De um modo geral há sempre centenas de barracas em funcionamento, mas há alguns dias especiais,
onde todas as barracas estão vendendo, verifique os dias no portal da feira (http://feiradecaruaru.com/portal/).
Luiz Gonzaga resumiu muito bem o que é essa miscelânea de culturas na música A Feira de Caruaru...
A Feira de Caruaru, Faz gosto a gente vê. De tudo que há no mundo, Nela tem pra vendê, Na feira de Caruaru.
Tem massa de mandioca, Batata assada, tem ovo cru, Banana, laranja, manga, Batata, doce, queijo e caju, Cenoura, jabuticaba,
Guiné, galinha, pato e peru, Tem bode, carneiro, porco, Se duvidá... inté cururu.
Tem cesto, balaio, corda, Tamanco, gréia, tem cuêi-tatu, Tem fumo, tem tabaqueiro, Feito de chifre de boi zebu, Caneco acuvitêro,
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Penêra boa e mé de uruçú, Tem carça de arvorada, Que é pra matuto não andá nú. Tem rêde, tem
balieira, Mode minino caçá nambu, Maxixe, cebola verde, Tomate, cuento, couve e chuchu, Armoço feito nas torda, Pirão mixido que nem angu, Mubia de tamburête, Feita
do tronco do mulungú.
Tem loiça, tem ferro véio, Sorvete de raspa que faz jaú, Gelada, cardo de cana, Fruta de paima e mandacaru. Bunecos de Vitalino, Que
são cunhecidos inté no Sul, De tudo que há no mundo, Tem na Feira de Caruaru.
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Saímos de Caruaru por volta das 16 horas, em direção ao teatro a céu aberto de Nova Jerusalém. No caminho, um vislumbre de final de tarde do sertão nordestino e da caatinga.
O teatro de Nova Jerusalém fica no distrito de Fazenda Nova, no município de Brejo da Madre de Deus, a 202 km de Recife. É uma enorme área com diversos cenários
diferentes que representam toda a história da Paixão de Cristo. Nele, a plateia é parte da apresentação e vai caminhando pelos cenários conforme a encenação vai acontecendo.
Por volta de 500 atores e figurantes participam da peça que é apresentada todos os dias durante a Semana Santa e mais de 250 mil pessoas assistem o espetáculo anualmente. Ficamos com muita vontade de assistir
ao espetáculo.
Esse teatro foi idealizado por Plínio Pacheco (esse aí do lado, jornalista gaúcho que se apaixonou pela filha do criador da antiga encenação da paixão de Cristo que acontecia
nas ruas de Brejo da Madre de Deus na década de 1950. Após o casamento, a ideia de construir cenários que representassem Jerusalém nos anos de Cristo tomou forma e ficou mais forte e as obras começaram
em 1963. Em 1968 ocorreu a primeira apresentação e desde então os espetáculos veem acontecendo ano após anos, no maior teatro a céu aberto do mundo. Plínio Pacheco acompanhou
de perto, até sua morte, ano após ano toda a preparação para as apresentações anuais.
Chegamos para a visita por volta das 17:30 e fomos recepcionados por um senhorzinho vestido a caráter que serviu de guia para explicar todos os cenários e tudo o que acontece
ali durante as apresentações. Que energia ele tinha, no auge de seus mais de 80 anos! Corríamos atrás dele para não perder as explicações; de quebra ele ainda nos falava sobre
a vegetação local: xique-xique, mandacarus, e outras espécies típicas do sertão nordestino. Tudo nesse lugar remete aos anos de Cristo, os adereços, vestimentas, construções,
é uma viagem no tempo.
Com o por do sol, caminhamos para á área onde ficavam a pousada, lojas e o restaurante.
Todos nós vestimos roupas romanas de época para o jantar a caráter.
Durante o jantar servido no cenário da Santa Ceia (self service com sobremesa, incluído no pacote) houve apresentações de danças características
da época de Cristo. Noite, luzes especiais, som ambiente, cenário de época, roupas de época...
É emocionante, como a representação de tudo aquilo acaba te transportando ao passado.
Após o jantar, tiramos nossas roupas romanas e fomos assistir a uma apresentação de danças nordestinas na área da piscina (xote, xaxado, forró,
quadrilha).
Saímos de lá por volta das 19h30m e chegamos por volta das 22h em Recife.
Foi um dia incrível, recomendamos a todos que façam esse passeio. Conhecer o sertão nordestino, Caruaru, ter um gostinho da cultura local na feira de Caruaru e
no Museu do Barro, viajar no tempo em Nova Jerusalém, foi um dos pontos fortes da nossa viagem ao Recife.