Dicas e curiosidades indianas...

Dicas e curiosidades... o que aprendemos numa viagem para a Índia...

Apesar dessas curiosidades e dicas que vou descrever a seguir, se você resolver um dia conhecer a Índia, vá com a mente aberta, sem julgamentos e sem críticas, pense que para o indiano, aquela é a forma de viver; alguns hábitos são culturais, não estão certos nem errados, são só diferentes dos nossos, eles estão acostumados com aquilo e, pelos olhares e sorrisos, são felizes. Aprendemos humildade, acho que é um pouco disso...

1) O trânsito indiano deve ser o mais insano do mundo!

Para atravessar uma rua, não pare, se parar e pensar um minutinho, você vai desistir e ficar do mesmo lado da rua eternamente.

É literalmente “tudo junto e misturado”: carros, ônibus, caminhões, riquixás, motos, outros veículos (seja lá quais forem), vacas, cachorros, macacos, humanos!!!!!! Tudo isso numa quantidade absurda, todos tentando se desviar e indo para algum lugar ao mesmo tempo! É surreal! Ah, tem o agravante de ser mão inglesa, confunde tudo!

Andamos bastante de riquixá, e parece que você está num videogame ou parque de diversões... o cara vai pela contra mão (ou por qualquer mão que ele achar que deve), você só fica olhando um outro veículo vindo na sua direção e pensando ... “Jesuis ferrou tudo!” (na verdade eu pensava em outra palavrinha com F...), de repente, o cara desvia em cima da hora e seu coração volta a bater por uns segundos e começa tudo de novo (confesso que tive uns acessos de riso, não conseguia parar!) hehehe.

Buzinas são mais importantes que qualquer outra parte do veículo, todo mundo buzina o tempo todo, eles dirigem com as mãos na buzina! Um detalhe... Eles não se xingam, simplesmente vão buzinando e desviando e indo pela contra mão e atravessando... O mestre de Yoga BKS Iyengar em seu livro Luz na Vida define e explica bem o trânsito indiano “... as ruas são uma aglomeração de motoristas, pedestres e às vezes animais todos tentando atravessar, e só por pouco um não bate no outro. Os motoristas buzinam sem parar, para alertar os outros de sua presença e disputar um lugar, mas ninguém encara isso como pessoal. Todos sabem que aquela multidão na rua está tentando ganhar seu sustento e chegar a seu destino. Isso não significa que não haja rivalidade no trânsito...Os indianos não são todos yogues, mas nossa cultura nos ensina que as vezes a vida é impessoal.” E, no final, tudo se encaixa... Parece mágica!

O pedestre nunca tem prioridade, ele é a base desta “cadeia alimentar” maluca, portanto, não espere que alguém vá parar pra você atravessar. Se você realmente quiser atravessar uma rua, há duas maneiras: gruda num indiano, segura nas mãos de Shiva e segue o indivíduo, não pare por nada; outra forma... gruda num bovino, segura nas mãos de Shiva e vai com fé.. as vacas e bois são sagrados e ninguém vai querer atropelar um deles, então há chances de você conseguir passar também.

Brincadeiras a parte, é bem estressante, então tome muito, mas muito cuidado! Apesar do caos constante, não vi nenhuma batida ou atropelamento enquanto estive por lá, o segredo é que eles dirigem bem devagar, até porque não daria pra correr mesmo.

2) Já falei que há vacas no meio das ruas?

Pois é, há vacas nas calçadas também, nas escadas, na beira do rio, elas estão por todas as partes; muitas vezes é melhor você sair da frente e deixa-las passar. Não tenho problema algum com esses animais, acho fofos e era bem legal vê-los por todo lado e até tentando comer os legumes das barracas de vendedores nas ruas de Rishkesh, mas eles fazem “caquinha” no chão... ou seja, se você não andar olhando onde pisa, com certeza... vai pisar.

3) Há macaquinhos também...

... nos parques, monumentos, praças, calçadas e em cidades como Rishikesh, muitos, alguns pequenos, outros nem tanto. Em Rishkesh, no hotel que ficamos, havia umas sacadas, que estavam sempre fechadas, no início não entendi o porquê. Um dia pela manhã, ouvimos um barulho e, ao abrir as cortinas, um macaco dos grandes batendo nas janelas, tentando encontrar uma entrada disponível, segundo meus amigos do grupo, ele bateu nas janelas de todos os quartos... ou seja, deixe sempre janelas e portas fechadas, ou você vai chegar no seu quarto e encontrar um macaco tirando um cochilo no seu travesseiro.

 Cuidado também com seus pertences, eles são muito curiosos e se virem uma máquina fotográfica “dando sopa”, vão querer pegar.

4) Cuidado com a água e os alimentos...

Pra beber, apenas água mineral de confiança, esqueça o gelo e esqueça os sucos naturais; até pra escovar os dentes, dependendo de onde estiver hospedado, melhor se prevenir (pelo menos, encha uma garrafa com água da torneira e pingue umas gotas de hidrosteril, só para garantir).

Com relação aos alimentos, não coma na rua e em lugares que considere suspeito; evite alimentos crus como saladas, legumes e frutas cortadas. De frutas, só comiamos bananas, porque elas vêm naturalmente bem embaladas. Use e abuse do álcool gel e lenços umedecidos e bactericidas. Não dá pra evitar tudo, em algum momento você vai estar exposta a alguma coisa, mas não custa evitar o que for possível, né?

Cuidado também com os excessos de temperos! A comida indiana é muito, mas muito temperada, eles comem tudo com curry (inclusive no café da manhã), e é muito picante (bem mais que no México); não adianta pedir algo sem tempero ou pimenta pro garçom porque, ou ele vai fazer cara de “Ué?” ou ele vai falar “no spicy” e quando você colocar na boca vai virar um dragão, porque os molhos já estão prontos não tem como tirar as especiarias. Se quiser arriscar, arrisque, mas eu me virei algumas vezes com comidas chinesas, muito arroz e frango de receitas da culinária chinesa (mas tome cuidado também, pois algumas receitas chinesas competem em ardor com as indianas!).

Como precaução, começamos a tomar pró-bióticos antes da viagem e continuamos durante toda a permanência na Índia.

Esses cuidados parecem exagerados, mas não são e te ajudarão a evitar uma bela diarreia ou problemas estomacais; no grupo que eu estava, muitas pessoas passaram perrengues com isso, tendo que ficar no quarto por uns dias, atrapalhando bastante a viagem e, vamos combinar ninguém vai querer conhecer um hospital indiano, né?

Ainda sobre alimentos, sempre que possível coma um doce chamado Gulab Jamur, um bolinho de leite mergulhado em calda de açúcar, rosas e cardamomo... é de babar!

5) Os banheiros...

Com exceção dos quartos de hotel, todos os demais lugares possuem os banheiros indianos, que não tem vaso sanitário, mas uma peça de porcelana instalada no chão, onde você fica em pé para usa-la; de um modo geral, achei limpos e, de certa forma, como não tinha como ter contato com o objeto, acabava sendo mais higiênico também, o problema maior era que o chão estava sempre molhado (de água não de urina), já vi banheiros públicos em condições muito piores aqui no Brasil; outro problema é que você precisa ter pernas fortes para poder agachar; visitamos muitos lugares turísticos e eu não vi nenhuma sujeira absurda como as vezes vemos em banheiros de shopping por aqui.

Mas, nem tudo estava perdido, porque havia também os banheiros ocidentais (como eles eram identificados), em número bem menor, então às vezes pelo tamanho da fila, era melhor usar o indiano mesmo. Em qualquer dos casos, leve sempre seu papel higiênico ou mesmo lenços umedecidos e álcool gel, pois quase nunca há sabonetes para lavar as mãos.

6) Segurança...

A Índia é um lugar relativamente seguro para se visitar, não há a violência urbana armada que vemos por aqui, não há o medo de “balas perdidas”; a Índia é um país com 1,2 bilhão de habitantes, que vivem num território bem menor que o Brasil, proporcionalmente falando, o Brasil é bem mais violento e perigoso; o que há por lá são os furtos e pessoas às vezes tentando levar alguma vantagem em cima do turista (coisa que não vemos por aqui né? Sqn!). Tomar cuidado com bolsas e carteiras nos bolsos é essencial. No meio daquela multidão, daquelas filas imensas, é muito fácil você ficar sem a carteira ou o celular e nem vai perceber, e esse é um cuidado que você deve ter em qualquer lugar do mundo. Um amigo do grupo teve a carteira furtada num metro em Istambul (Turquia), no dia que fizemos um city tour por lá.

Contudo, a Índia é um país que sofre com ameaças terroristas, há uma rivalidade grande entre extremistas islâmicos e hindus e em relação ao Paquistão. O que isso interfere na vida do turista? Em todos os lugares que você visitar, entrar, ou frequentar, você terá que passar pelo detector de metal e, no caso das mulheres por uma revista (desde aeroporto, museus, monumentos, até hotéis e restaurantes, como o Starbucks, por exemplo) acostume-se. Ninguém me explicou então não sei se estou certa, mas acho que no caso das mulheres a revista se faz necessária devido às roupas utilizadas principalmente pelas mulçumanas (burca, hidjab, xador, véus), que incluem muitas camadas de tecidos. Pra ser sincera isso não me incomodou, se era pra segurança e era obrigatório, fazer o que não é?

Agora, um detalhe que me chamou muito a atenção, não sei se outras mulheres do grupo em que eu estava perceberam, mas eu sim, bastava o sol se por e as mulheres sumiam das ruas, principalmente nas cidades menores como Rishikesh e Lonavla (Delhi e Mumbai são cidades grandes, com comércios e indústrias desenvolvidos, então as mulheres ocupam outra posição na sociedade), mas nas cidades menores ou mais tradicionais, isso é muito forte; a violência de gênero é algo forte na Índia. Se você for mulher e quiser viajar sozinha por lá, não ignore esse fato, se vista com roupas menos chamativas e evite perambular sozinha à noite e em lugares ermos.

7) Os Templos...

Há praticamente um templo em cada esquina na Índia, seja ele islâmico, hindu ou budista. Em todos você terá que se adequar para poder visita-lo.

Nos templos hindus, você terá que entrar descalço, lembre-se sempre de carregar meias velhas na bolsa, para poder coloca-las, isso evita o contato direto com o chão e, principalmente, que seu pé fique sujo demais; se a meia ficar marrom de sujeira, você poderá jogar fora.

Nos templos islâmicos, além de descalço, você terá que se adequar à vestimenta exigida: no caso dos homens, é proibido entrar com bermudas e camisetas cavadas, se estiver assim, você terá que amarrar um xale na cintura; para as mulheres (se não estiver com saias ou shorts curtos ou bermudas), geralmente um lenço sobre os cabelos é o suficiente; tem um templo em Delhi onde você não precisa cobrir os cabelos, mas vai ter que vestir um roupão enorme que vão te fornecer logo na entrada, um vestidão que parece que vai sair andando sozinho, hehehe, mas vale a pena para conhecer o local.

 Em relação aos templos, lembre-se sempre: respeito em primeiro lugar.

8) Os indianos e indianas...

Os indianos e indianas são muito amigáveis! A forma de cumprimento mais utilizada é “namastê”, juntando as palmas das mãos em frente ao peito, esse simples ato te abrirá as portas da maioria dos lugares.

Os moradores do interior do país não veem ocidentais com frequência e não tem como a gente passar despercebido por eles (não só pelo tom de pele e cabelo, mas também pelas roupas que usamos); imagina um grupo com 19 brasileiros... virávamos o ponto de atenção onde quer que chegássemos, parecia que éramos celebridades hehehe. Eles vinham cumprimentar, perguntavam se estávamos gostando da Índia, de onde éramos e, na maioria dos casos, pediam para tirar fotos com você! Essa atitude nos dava a liberdade de pedir (sempre pedir, com muita educação), fotos com eles também, principalmente com as crianças (lindas!) e com as mulheres em suas vestimentas do dia a dia, sáris coloridos que pareciam vestidos de festa de tão maravilhosos! Pelo menos as pessoas que que tivemos contato, adoravam isso!

Num museu em Pune, um grupo de dezenas de crianças de uma escola local que lá estava em visita escolar, veio nos cumprimentar; nunca apertei tantas mãozinhas sorridentes!

9) Compras....

A Índia não é um país caro para compras, 100 rúpias equivale grosseiramente a 5 reais (valores de jan de 2018).

Há várias coisas interessantes para comprar, roupas indianas, xales, lenços, roupas em seda, incensos, chás, joias, enfeites, bolsas. Antes de comprar roupas, principalmente, pense um pouco se você vai usa-la no Brasil, as vezes por lá fica lindo, mas aqui você não encontrará um lugar para usa-la.

10) O esporte principal na Índia é o Críquete..

A Índia se tornou independente do Reino Unido na década de 40, contudo há inúmeras referências aos costumes britânicos. O inglês como uma das línguas oficiais, vestimentas, Ônibus de dois andares que sobrevivem em Mumbai, entre outros. E no esporte, o críquete é o esporte nacional, nas ruas veem-se crianças jogando, áreas para treinamento e nos campeonatos internacionais, a Índia é um dos times mais respeitados.

11) Os idiomas...

Na Índia há nada menos que 21 línguas oficiais, sendo as principais o inglês e o hindi, contudo, praticamente em cada região do país há uma língua falada e escrita diferente. Nos locais turísticos e hotéis, fala-se o inglês.

12) Yoga, vegetarianismo e Gandhi...

O yoga realmente faz parte do cotidiano indiano, em vários locais há ashrams e escolas de yoga.  Pune e Rishikesh são duas das principais cidades quando o assunto é prática de yoga.

Com relação ao vegetarianismo, também é uma realidade na Índia. Todos os restaurantes possuem um variado cardápio vegetariano ou vegano. Em Rishikesh não se encontra nem ovos  nos cardápios. Praticamente não encontramos durante toda a viagem nenhum restaurante servindo carne de boi, somente frango, porco ou cordeiro.

Mahatma Gandhi é o grande herói e mito indiano. Em praticamente todas as cidades que visitamos há museus, monumentos ou memoriais em sua homenagem.

13) Os nomes das cidades...

Nas últimas décadas, com o intuito de romper com resquícios da colonização inglesa, várias cidades da Índia mudaram seus nomes para os antigos, de origem mais nacionalista ou em homenagem a heróis nacionais, por exemplo: Bombaim passou a ser Mumbai, Calcutá tornou-se Kolkata, Madras passou a se chamar Chennai entre outras.

Isso também aconteceu com vários monumentos, por exemplo, o Museu Chhatrapati Shivaji Maharaj Vastu Sangrahalaya (antigo museu Príncipe de Gales das Índias Ocidentais), a estação de trens de Mumbai, que antes se chamava Rainha Vitória (Victoria Station), hoje se chama Chhatrapati Shivaji (fundados do Império Marata).

14) Lixo...

Infelizmente, o excesso de lixo em todos os lugares é uma realidade pelas ruas indianas. Num país com tantos habitantes, tamanha pobreza e praticamente nada de coleta de lixo ou saneamento básico, é bastante comum vermos pessoas queimando resíduos ou mesmo montes de lixo pela estrada.

Esse cenário incomoda um pouco, mas é necessário entender o contexto do país, os indianos não são mal educados por jogarem lixo onde puderem (lembre-se que há muito lixo pelas ruas brasileiras também), eles não tem onde colocar, não tem caminhões de lixo coletando a cada dois ou três dias como aqui.

Para não ter uma sensação desagradável quando caminhar pela Índia, deixe todo o julgamento de lado e tente se envolver pela atmosfera sagrada e holística do lugar. 

Namastê!